A trajetória de Castelani comprova que a fuga é, muita vez, o encontro. Natural da mítica Minas Gerais (berço de tantos saberes populares e de artífices), ainda criança, Castelani encontrava nas artes manuais seu refúgio. Desenhar, pintar, inventar roupas para personagens imaginários, criar marionetes e fantoches era sua forma de ler e de estar no mundo. 

A primeira fuga de Castelani se deu com a opção por um curso de Administração. A segunda fuga veio com a entrada dele em uma grande empresa perto de sua cidade, Poços de Caldas. A derradeira fuga iniciou-se com um estágio na imensa, desconhecida e árida São Paulo, cidade que o abriga até hoje e que aprendeu a amar.

 

Xícara Joe Castelani

O encontro se iniciou com a investigação da madeira como matéria-prima para a criação, na tentativa de resgatar, com isso, um universo lúdico deixado para trás, na longínqua infância. Essa incursão nas artes manuais serviu, na verdade, para abrir portas (e dar coragem) para o ingresso de Castelani em um curso de Design na Escola Panamericana de Artes. Foi nessa formação que o professor e designer Ricardo Shirmer (@ricardo.schwab.schirmer),  apresentou Jef ao universo infinito da cerâmica (na sua fronteira entre design, arte e artesanato). A dureza do material madeira cedeu espaço para a fluidez do barro e para as suas infinitas possibilidades. Com o barro se poderia fazer tudo!

A experiência e tradição da artista Ivone Shirahata abriram para Castelani novas portas, novas fronteiras da cerâmica, dessa vez em direção ao Oriente. Depois, a ceramista Cintia Zambianco      ( @ateliecintiazambianco),  mostrou a Jef que os utilitários também são peças que merecem atenção e cuidado. Castelani, então, já apaixonado pelas infinitas possibilidades da arte da cerâmica, passou pelos estúdios Terra W ( @terrawestudio), Muriqui ( @atelier_muriqui),  e não parou até encontrar a sua assinatura e abrir seu próprio espaço.

No início de 2022, Castelani teve a oportunidade de viver uma experiência única para um ceramista brasileiro: foi convidado para uma residência artística no Studio Rüsters  (@rustersbali), em Bali, na Indonésia. Foi quando pode produzir cerâmica em parceria com Cheria (@pulcheria.kubo ), artista que apresentou a Castelani técnicas muito particulares na arte do torno. Essa vivência se estendeu até Bangkok, no Studio Poteri Clay Workshop (@potericlayworkshop), onde Castelani trabalhou com um jovem ceramista muito talentoso, Henry, e produziu vasos marcados por detalhes minuciosos, utilizando materiais aparentemente estranhos ao universo das cerâmicas como galhos, pedras e conchas. Finalmente, Castelani encerrou sua experiência de seis meses na Ásia em pequena cidade ao norte da Tailândia, Muang Chiang Mai, onde mergulhou nas práticas de cerâmica-raiz da Tailândia, dessa vez no Studio Inclay (@inclay), com os inspiradores artistas Jirawong  (@jirawong_inclay ), e Id, (@idea.green).

prato de ceramica
Xícara com pintura Joe Castelani

Hoje, Castelani aperfeiçoa sua técnica com uma das ceramistas mais importantes do país, Hideko Honma.

Para Castelani, o encantamento com a cerâmica reside no fato de que cada movimento das mãos no barro, por menor que seja, convida (de forma orgânica) ao surgimento de uma nova peça. São os vasos, os pratos, as xícaras que se convidam a existir e que conduzem o ceramista a uma forma – nunca definitiva porque será um objeto no estágio do torno, outro objeto na secagem, outro na esmaltação, outro quando submetido às altas temperaturas do forno e outro e outro e outro quando nas mãos de que os adquire.

A cerâmica de Castelani resulta de um feliz encontro entre a rusticidade e a elegância, entre o básico e o complexo. Suas peças são uma mescla das tradições mineiras com a simplicidade das formas orientais.